Rafael dos Santos Borges
I O Problema:
Nem sei dizer a essas crianças se
ainda há nação, tampouco se há razão para termos uma nação. Contudo, se faz
necessário dizer a essas crianças que não há razão para o ódio, o desespero, a
mágoa e a competição. Estamos numa escola caduca, que guarda uma modernidade
igualmente velha, em que até sua arquitetura, já foi denunciada por
estruturalista, sobre tudo Foucault, como aniquiladora ou conformadora de
indivíduos ao trabalho, ao Estado e às instituições totais. Porém, estamos na escola e não há melhor lugar
para estarmos, se quisermos romper com as caduquices da modernidade, precisamos
estar com os mais jovens.
II A família:
Antes, ou, em tempos recentes de
modernidade as famílias partilhavam com o Estado, ou apenas buscavam nele a
complementação para educação dos seus filhos, os quais falavam de instrução,
aprender, estudar, hoje as famílias confiam seus filhos às escolas a guarda de
seus filhos, pois as demandas da sociedade pós-moderna (que também gosto de chamar
de capitalista triunfante), dá ao indivíduo papéis múltiplos e que se
concorrem, veja: a mulher, trabalha, estuda e é mãe; o homem trabalha, estuda,
e é pai; numa configuração que não os
obriga a ser marido, esposa, mas se há filhos, são obrigatoriamente pais; e, as
crianças, são filhos, de forma inerente, frágeis.
Não me arrisco em dizer que não
há mais famílias, mas hoje elas são menores, menos solidárias (internamente,
pais, mães e filhos, competem, Renato Russo, poeticamente cantou “você culpa
seus pais por tudo, isso é um absurdo, são crianças como vocês”), mais
solitárias, não há laços familiares mais ampliados na mesma geração ou situação
etária (como tios, primos, cunhados). Mesmo o sentido semântico de família,
oriundo do latim “familus” , que pode
sem entendido como criado, servo, obediente, não nos cabe mais, a obediência parece
ser um valor obsoleto (os adultos são desobedientes, por exemplo, não pedem
nota fiscal, para driblar os impostos).
A mudança de paradigma familiar atinge
as duas classes sociais mais frágeis: a classe média, que absorve os valores da
classe alta, os adultos lançam-se em busca de signos de status e riqueza e
acabam, num padrão de exigência de consumo, endividando-se e severamente
alienados, não mais donos do próprio tempo, trabalham mais e mais, endividam-se
mais e mais e assim, entram mais e mais nesse ciclo perpétuo que os afastam
fisicamente dos filhos (por exemplo, matriculam o filho em uma escola bem cara
para o manter ocupado, além de manterem-se num grau de prestígio e status
cultural elevado, para isso lançam-se em mais projetos de trabalho que os
afastam dos filhos); já aos pobres, a pobreza sempre presente, os faz igualmente
se alienarem da educação dos próprios filhos, trabalham mais e mais, não
acumulam riqueza, endividam-se para dar em conforto o que falta de tempo e
atenção aos filhos, recorrem à escola pública, na qual confia a guarda dos
filhos, porém, essa lhes parece apenas
um privilégio, não um direito, pois escola pública para pobres é recente, ao
menos no Brasil, filhos de pobres, frequentam uma escola pública empobrecida em
recursos e organização, contribuindo para herança maldita de um capital
cultural desprivilegiado, contudo, a escola pública cuida, dá merenda, dá
uniforme, dá material e dá leite.
As discussões sobre sexualidade,
não deveriam ser confundida com a discussão sobre família, esse tipo de
organização social, tem como valor fundamental o afeto a proteção aos membros
do seu grupo, em especial, velhos, crianças e doentes. Apenas por isso, qualquer
instituição família que proteja vale ser defendida.
II O Estado:
Os Estado-Nação-Território como os
conhecemos hoje foi configurado ao nascer do capitalismo, durante a modernidade,
desde o príncipe maquiavélico, até a unificação de Portugal, um Estado forte
protegia os interesses de uma burguesia ascendente, com os valores morais do
lucro, do trabalho e das riquezas em ascensão. Tal configuração estatal já
nascia com contradições e propostas de antagonismo, com o socialismo utópico de
Thomas Morus , até chegarmos ao socialismo científico e, por fim, soviético.
Agora, nesse triunfo do capitalismo, ainda que nos reste uma utópica Cuba, o
socialismo, não vingou, veio a hegemonia do capitalismo suavizada com o verbete
Globalização.
Para as empresas, ou para os
fluxos globais do capital, não há restrição de território, as leis estatais que
protegem os Estados-Nação são facilmente negociadas por meio de políticos
desprestigiados, vazios de referência ideológicas, facilmente comprados, que
trazem si o poder de manipular leis em
favor de interesses empresarias e especulativos. No nosso tempo a configuração
Estado-Nação-Território vive um interregno. Não são os partidos que são
questionáveis, mas o próprio Estado e a Nação. Por isso ficam as dúvida: E os
jovens que nascem nesse território? Sem escola, sem família, sem Estado? Parece
que o fim do Estado, nesses tristes trópicos se reconfigura como periferização,
até aqui vinte anos, restará aqui os que não puderam ir para Europa e os
velhos.
Contudo, um projeto grande, de
Estado- Nação poderosa incorre o risco de aniquilar a criança, o sujeito, seus
sentimentos e projetos de ser. Ao mesmo tempo em que o individualismo
exacerbado em práticas liberais triunfantes, aniquila a criança, o sujeito ao
abandonar na competição egoísta e na existência pelo consumo. Em qualquer
situação as crianças são os sujeitos frágeis. Do pensamento clássico, se tem que: “qualquer
descuido com a educação é um descuido grave para a Pólis”, por Aristóteles, que
em a Politica, Ética a Nicômaco, pressupunha que a formação do indivíduo era
para Pólis, mas depois de cultivada a sua areté.
Buscava-se o equilíbrio entre o indivíduo para a Pólis e a Pólis para o
indivíduo.
Dentre as instituições criadas na
modernidade sobreviveu forte a escola, que hoje serve para proteger, cuidar e
preservar os mais jovens; para os apresentarmos ao mundo velho; fazer-lhes
promessas de um mundo novo, e; dizer que muita coisa já é sabida, mas que há
outros mistérios por desvendarmos.
III- A ética
Da mesma maneira buscamos um
referencial sobre ética e política em tempos e modernidade exacerbada ou
tardia, posto que tal modernidade trouxe-nos horrores como as Guerras Mundiais
e as lutas posteriores no contexto da Guerra-fria, o racionalismo científico,
construído em projetos modernos e positivistas de escola que não redundou em crianças
felizes nem em adultos satisfeitos.
Maria Rita keel (2002) recorre
aos “Direitos Humanos” conclamados em 1948. Disso sobre valores, subjetividade,
política e educação e lista dentre os artigos aqueles considera útil explanar
para tratar de subjetividade, politica e direitos humanos, segue alguns tópicos
e reflexões para a construção de uma escola ética e reflexiva que leve em conta
os valores morais , num código originário de valores mínimos:
- A dignidade humana é imprescindível para
completar nossa existência e que incluí à todos na escola, de maneira igual, em
princípio e direito;
- O espírito de fraternidade,
pois só nos é possível viver em coletividade;
- Gozar de liberdade plena, pois
a partir de bases mínimas, que são os os direitos humanos, se pode fazer algo,
usufruir de seus direitos é saber fazer, saber o que fazer, ser capaz de fazer;
- Direito de ser em todos os
lugares, guardando o respeito que sua liberdade é sempre acompanhada por
liberdade do grupo, o indivíduo não precisa se oprimir para viver;
- Nós humanos somos mortais,
nossa linguagem nos da uma condição imortal, mas nós só existimos na
pluralidade, nossas obras devem levar em consideração a pluralidade da vida
planetária e viabilidade para a continuidade da vida, pois todos os homens tem
deveres para comunidade.
Assim,
a escola busca ser um ambiente feliz, que não oprima, formate e persiga;
A escola de todas as instituições
que passam por crises profundas de existência, talvez, seja a que mais reflita
sobre si, uma outra escola é possível, uma escola que atenda as demandas
libertadoras, de busca da igualdade, do lugar da curiosidade e das inovações. Pode
ser por isso, que as demandas sobre a escola aumentam, pois das instituições da
modernidade ela tem se mostrado a mais sólida e confiável, do que o Estado, o
Mercado e menos fragilizadas do que as famílias.
Referências bibliográficas:
ARISTÓTELES, Anon. política. In: Política. Martin
Claret, 2001.
KEHL, Maria Rita. Subjetividade, Política e Direitos Humanos.
In. SILVA, Marcus Vinícius de Oliveira. Psicologia e direitos humanos:
subjetividade e exclusão. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=7b3apxuJWM8C&lpg=PA34&dq=Maria%20Rita%20Kehl%3A%20condi%C3%A7%C3%A3o%20humana&hl=pt-BR&pg=PA30#v=onepage&q=Maria%20Rita%20Kehl%3A%20condi%C3%A7%C3%A3o%20humana&f=false>
Acesso em 13/04/2015;
MARTÍNEZ, José Luis Calvo et al. Ética a Nicómaco.
Alianza Editorial, 2001.